Um Baumbach obrigatório, o filme
que lançou o autor americano é um relato impessoal e sóbrio sobre uma família
que se desfacela. O distanciamento de perspectiva, contudo, funciona à
narrativa e à estética, valorizando o filme ao invés de desumanizá-lo.
Bernard Berkman (Jeff Daniels) é um escritor que sobrevive
de glórias passadas (tipo comum no cinema, destaque-se). Joan Berkman (Laura Linney) é uma professora que
inicia na escrita e vem recebendo destacadas críticas positivas. Tudo corria
bem (ou mal) até que Bernard e Joan decidem divorciar-se após suposta traição de uma
das partes. O fogo cruzado atinge em cheio os filhos do casal (Walt e Frank, interpretados respectivamente por Jesse Eisenberg e Owen Kline) que, em momento
delicado (final e início da adolescência), precisam aprender a lidar com a independência forçada enquanto buscam suas experiências inéditas.
O mote é recorrente, mas o modo
como é contada a história – seguindo a cartilha indie americana de Todd
Solondz, é bom que se faça justiça – diferencia esse drama da grande maioria dos que vêm sendo produzidos pelo cinema de larga escala. Todos os personagens são
defeituosos, mas em geral não por desvio de caráter, e sim por necessidade. O
trabalho de atuação (e mise em scène) é valoroso, e os atores estão excelentes
(talvez Linney um tom um pouco acima em determinadas cenas, mas nunca afetada), o
que ajuda a conferir identificação entre público e os personagens, mormente por
representarem estágios diferentes das descobertas (e, em última análise, recusa a
elas) que se passam ao longo da vida.
No decorrer da projeção, vemos como
os personagens (em especial Walt) evoluem na busca de sua
individualidade, abarcando o desconhecido e o novo não por desejo, mas por
imposição. Um trabalho maduro, recomendável por seguir um caminho
formal e substancial que, ainda que tenha virado moda em produções esquecíveis
(Juno, Pequena Miss Sunshine), merece destaque pelo roteiro bem elaborado e
atuações quase perfeitas.