segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

PRIMER (PRIMER)


A história aconteceu mais ou menos assim: em 2004, um matemático chamado Shane Carruth decidiu escrever, produzir e dirigir uma ficção científica com 7 mil dólares. Como não tinha dinheiro para alugar um estúdio, usou a garagem de casa e, por não poder contratar atores, chamou os amigos para ajudar. Resultado: o filme foi selecionado para o Festival de Sundance e premiado mundo afora. Essa é a história de Primer, um filme de guerrilha que merece ser visto.

Antes, um aviso: esse não é bem um filme comum. Está mais para um puzzle em forma de filme. Primer é extremamente complicado de se entender. Na verdade, ele foi feito para não ser entendido, ao menos não de cara. Embora dure pouco mais de uma hora, não se engane: é preciso vê-lo, no mínimo, duas vezes para começar a entender a história. O lado bom é que, depois que se decifra a esfinge (com ou sem uma ajuda, você decide), o resultado é extremamente gratificante.

A história acompanha Aaron (Carruth) e Abe (David Sullivan), dois amigos que desenvolvem, com a ajuda de outros dois, uma caixa para diminuir a gravidade de objetos. O que eles não sabem inicialmente é que, por acidente, na verdade construíram uma máquina do tempo. Não uma máquina convencional, mas uma que, quando desligada, permite que o objeto colocado dentro da caixa retorne ao instante em que ela foi ligada (leia mais abaixo como funciona a máquina).

Os dois, então, têm a ideia genial de, durante uma semana, acompanharem a movimentação da Bolsa de Valores e, de posse dos dados, voltar no tempo e aplicar nas ações que mais cresceram. Até o fim de semana, esperam ter feito dinheiro suficiente para não precisarem mais usar a máquina. Algumas coisas não saem como o esperado, o que envolve uma festa de aniversário, e surgem alguns conflitos no tempo.

Algumas cenas são pessimamente mal filmadas, inclusive fora de foco. Isso é compreensível, já que o diretor não é propriamente um cineasta. A decupagem, além disso, é completamente fragmentada - não sei se inadvertida ou propositadamente -, o que dificulta ainda mais a compreensão do filme (a par da história realmente intrincada). Abstraindo desses aspectos técnicos, é possível aproveitar uma excelente história, daquelas que explodem a cabeça e fazem a gente ficar refletindo um tempão, digna dos melhores sci-fi, embora sem nenhum efeito especial.

Da primeira vez que se assiste Primer, em regra, o filme parece um amontoado de cenas desconexas. Apenas depois de compreender um pouco da trama, as coisas vão clareando. A internet está cheia de explicações para o filme - que conta com teóricos quase tão numerosos quanto os de Donnie Darko -, mas a que mais gostei foi desse aqui e aqui. Como não encontrei explicação satisfatória em português, tomei a iniciativa de traduzir (com ajuda do Google Tradutor, mas tudo devidamente revisado) o conteúdo do site citado, que segue logo abaixo (foi esse o motivo que atrasou a postagem). A primeira parte, que trata da caixa, até pode ser lida antes de assistir ao filme (embora eu ache que seja um pouco ininteligível), mas recomendo terminantemente que não se leia a segunda parte, que trata da trama em si, antes de assisti-lo, pois isso tira completamente a diversão de tentar montar o quebra-cabeça sozinho.

Lembrando que o texto a seguir não é de minha autoria, eu só tive o trabalho de traduzir.

1. A Caixa

O Canal

As caixas de viagem no tempo usadas no filme funcionam assim: quando a caixa está ligada, um "canal", começa no espaço-tempo. Isso é ponto A. Vamos chamar de 12h. Ao longo dos próximos poucos segundos ou minutos (dependendo do tamanho da caixa) um campo eletromagnético se acumula gradualmente de forma parabólica até que se estabiliza.

Mais tarde, a caixa é desligada. Isso faz com que o campo diminua parabolicamente a zero. Isso fecha o canal no ponto B, digamos, às 12h01min.

Um objeto colocado dentro dos limites do canal - isto é, dentro dos limites da caixa e entre 12h e 12h01min - não se move ao longo do tempo no sentido normal, porque o tempo não flui dentro do canal da mesma maneira que na realidade. Em vez disso, o objeto vaga a partir do ponto A ao ponto B e vice-versa, para trás e para a frente, mais e mais, em um estado indeterminado, gradualmente acumulando tempo de seu ponto de vista.

Isto continua até que a onda é estabilizada e o objeto, removido - quer no ponto A ou no B. Toda vez que o objeto atinge o ponto A ou B do canal, há uma probabilidade finita de que a onda vai entrar em colapso e o objeto sairá, ao invés de continuar em outra viagem ao longo do canal. Números concretos reais sobre isso são bastante vagos no filme, mas parece que a probabilidade de sair do canal é de uma em dez mil. Depois de cerca de 1.300 viagens de A a B, a probabilidade é muito alta de que o objeto sairá. Assim, a quantidade de tempo que o objeto passa no canal (do ponto de vista do objeto) é variável, mas geralmente gira em torno de 1.300 minutos.

Fazer a onda estabilizar requer um truque. Como no famoso experimento do gato de Schrodinger, a onda só estabiliza quando a caixa é aberta. Necessariamente, quando o objeto envolvido é inanimado, a caixa só pode ser aberta pelo lado de fora, por Aaron ou Abe, no ponto B, às 12h01min. Portanto, o objeto sempre sai às 12h01min.

Se o objeto é colocado no ponto A, a quantidade de tempo vivido por ele (como registrado pelos relógios colocados na caixa) é sempre um número ímpar de minutos, porque o objeto tem que fazer um número ímpar de viagens para retornar ao ponto B. No filme eles conseguem 1.347 minutos quando vão testar isso.

Se o objeto é colocado no ponto B enquanto a caixa está sendo desligada e, em seguida, removido novamente no ponto B, o objeto deve fazer um número par de viagens. No filme eles conseguem 1.334 minutos quando vão testar.

Assim que descobrem isso, Aaron e Abe pensam que se pudessem criar um dispositivo com algum grau de inteligência, como um pequeno robô programável ou algo assim, poderiam programá-lo para medir a quantidade de tempo que se passou e, em seguida, espontaneamente selecionar o tempo que passa dentro da caixa, saindo espontaneamente no ponto B ou A. Dessa forma, eles imaginam uma caixa onde o robô é inserido às 12h01min no ponto B, espera um minuto, sai da caixa no ponto A (12h), e, assim, viaja para trás no tempo.

Aaron e Abe pulam completamente esta etapa e vão direto para a construção de caixas no formato de caixão para que possam, eles próprios, viajar através do tempo.

Operando a Caixa

Quando a caixa é ligada, o campo se eleva gradualmente. Durante esta elevação, há um período durante o qual a caixa ainda está ligada, mas o campo no interior ainda é fraco o suficiente para que um objeto possa sair ou entrar nele, e, em seguida, entrar no canal indeterminado. Esta janela estreita de alguns minutos é o ponto A. O canal persiste até que a caixa seja desligada depois. Quando isso é feito, o campo diminui e, novamente, há uma janela de poucos minutos em que um objeto pode entrar ou sair da caixa de segurança. Este é o ponto B.

Operar a caixa torna-se uma questão de tempo e preparação. O operador, digamos Aaron, liga a caixa no momento em que quiser sair e depois se afasta para que ele não esteja presente na janela A. Mais tarde, Aaron retorna para a caixa e a desliga. Assim que a máquina vai desligando, a janela B se abre, e ele entra. O tempo passa e a máquina desliga completamente. Neste ponto, em vez de sair, Aaron foge da extremidade do canal e começa a circular para trás no tempo, em vez de para frente. Como o tempo está correndo para trás, a caixa dá a impressão de estar ligando novamente, pelo ponto de vista de Aaron. Aaron espera até que a caixa pareça estar desligando novamente (na realidade, este é o ponto A, onde é ligada), e depois sai da caixa através de uma janela em tempo hábil. Ele é agora Aaron-2.

Aaron-2 deve evitar Aaron-1 pelo resto do dia. Por quê? Porque se eles interagem um com o outro, ou se o curso de eventos do dia for alterado de alguma forma, então existe a possibilidade de Aaron-1 nunca entrar na caixa na janela B. Isso não iria romper a linha do tempo ou nada estúpido assim, mas significaria que há dois Aarons nesta linha temporal. Permanentemente. E apenas uma identidade entre eles.

Enquanto dentro da caixa, o operador não tem como saber o quão forte o campo está realmente funcionando. Sair da caixa durante uma das janelas de segurança, então, requer um cálculo prévio da quantidade exata de tempo que a caixa estava funcionando, e você tem que levar um cronômetro na caixa com você para ter certeza de permanecer lá dentro apenas durante a quantidade certa de tempo. Em teoria, você poderia fazer o que o objeto faz e ficar na caixa por meses ou anos, fazendo várias viagens antes de sair. Na verdade, se você morresse dentro da caixa, o seu cadáver dissecado sairia do ponto B, depois de ter passado muitos anos (em uma concepção subjetiva) dando voltas e voltas no circuito antes de sair. No entanto, isto não é explorado no filme.

Na verdade, as janelas A e B são arbitrárias. É possível entrar ou sair da caixa a qualquer momento. No entanto, fazer isso é perigoso. Quanto mais forte o campo está funcionando, mais perigoso é sair ou entrar. É por isso que Aaron e Abe só o fazem quando o campo está fraco, ou seja, quando a caixa acaba de ser ligada ou está prestes a finalizar o desligamento, e também por isso Aaron se sente mal depois de sua primeira viagem - ele sai levemente cedo/tarde. Além disso, entrar ou sair da caixa nunca é realmente seguro porque o campo está sempre ativo de uma certa maneira. Há sempre um pequeno choque estático, e Aaron e Abe experimentam efeitos negativos cumulativos, embora sempre usem as caixas com cuidado.

A caixa deve ser inundada com argônio, um gás nobre inerte e inofensivo, para funcionar, por isso Aaron e Abe têm que usar tanques de oxigênio em suas viagens. Como as caixas são pequenas, escuras e silenciosas, eles também funcionam como tanques de isolamento convencionais, razão pela qual Aaron e Abe sonham dentro e sentem-se estranhos depois. Isso provavelmente também se deve aos sedativos que eles tomam antes de entrar. De qualquer maneira, não tem nada a ver com o fato de que eles estão viajando para trás no tempo.

Estrutura da linha do tempo em Primer

A topologia da linha do tempo é um modelo de bifurcação simples. Cada viagem no tempo cria uma nova linha temporal, divergente de todas as anteriores, em que coisas diferentes podem acontecer. No entanto, as precauções de não-interferência de Abe ainda são uma boa ideia, pois garante que seu duplo do passado entre e e saia da caixa no horário programado. Se não o fizer, há duas pessoas idênticas mesma linha temporal, o que ocasiona problemas práticos significativos

O que ocorreria exatamente se você desligasse uma caixa em funcionamento enquanto soubesse que alguém estava lá dentro (ou seja, porque você o viu sair no ponto A), não é, sequer remotamente, claro.

2. A História

O que eu deveria saber antes de assistir Primer.

(Se você quer ir totalmente às cegas, tudo bem - ignore o resto desta seção.)

  1. Primer não tem nada que possa ser chamado de exposição. Nada vai ser explicado diretamente para você, você simplesmente está planando entre conversas de outras pessoas enquanto as segue. Cabe a você decidir se vai continuar.
  2. Mesmo se você estiver muito ligado, há um ponto a cerca de 3/4 do filme, que todo mundo -
    todo mundo - perde na primeiro vez que assiste. Isso não é culpa sua, essa parte do filme é muito confusa e não é explicada claramente. Vou explicar mais tarde.

Agora vá assistir ao filme e depois volte.

O que aconteceu? (Resumo da Trama)

Aaron, Abe, Philip e Robert são quatro homens que trabalham em uma empresa de semicondutores de dia e vendem produtos eletrônicos caseiros no tempo livre. Mas, apesar de eles terem algumas patentes interessantes, nunca fizeram muito dinheiro com esses projetos paralelos. Chegaram perto uma vez, mas um homem chamado Joseph Platts roubou sua ideia, deixando-os sem dinheiro algum.

Foi acordado que cada um deles se revezaria para por uma ideia adiante. A ideia de Robert é construir um estranho pedaço de hardware que pode, teoricamente, reduzir a massa de um objeto dentro dele. Isso se faz por "bloqueio de informação", excluindo o objeto na caixa dos efeitos da gravidade. Isso é logo após o Natal (daí a geladeira nova de Aaron).

A caixa requer supercondutividade. Eles não podem gerar as baixas temperaturas que precisam, por isso na sessão de brainstorm jogam uma ideia ou duas de fazê-lo em temperatura ambiente. Eles desmontam alguns eletrodomésticos para o equipamento e um conversor catalítico de paládio, e constroem a coisa na garagem de Aaron. A caixa também tem de ser hermeticamente fechada e inundada com argônio para funcionar corretamente. Aaron também faz algumas modificações não convencionais na caixa - "Parece um cão digerido."

Ao experimentar, Aaron e Abe descobrem que a máquina funciona. Eles colocam um objeto azul dentro da caixa e registram a diminuição da massa. (Enquanto mexe no dispositivo, Aaron coloca a mão direita na frente do campo e Abe poe as mãos sobre ela para soltar o papel picado (isso se torna importante mais tarde). Aaron e Abe se dão conta instantaneamente das aplicações ilimitadas e do valor do dispositivo que eles construíram. Eles imediatamente cortam Robert e Philip fora da jogada, dizendo que a garagem de Aaron tem de ser dedetizada.

Mas, ao mesmo tempo, Aaron e Abe também percebem que se forem a público com a nova invenção muito rapidamente, alguém como Platts irá tirar vantagem disso novamente. Eles precisam entendê-la completamente primeiro.

Alguns meses passam. Os quatro homens conseguem financiamento de um Thomas Granger, enquanto Abe estabelece uma relação com a sua filha, Rachel (Aaron é, naturalmente, muito bem casado com sua esposa Kara, com uma filha, Lauren). Abe tenta descobrir como, exatamente, o dispositivo faz o que faz - e falha

Estamos agora em março

Segunda-feira

A primeira cena do banco: Abe aborda Aaron uma manhã. Aaron está ouvindo March Madness em um fone de ouvido (e continua a fazê-lo pelo resto do dia). Abe convence Aaron tirar o dia de folga do trabalho e mostra a Aaron uma série de descobertas que fez.

Depois de repetidos experimentos no objeto, Abe percebeu que um fungo estranho estava crescendo nele. Ele levou para análise e obteve, como resultado, que o fungo era perfeitamente normal, mas que a quantidade de crescimento que apresentava era consistente com anos de passagem do tempo, e não dias. Desconfiado, ele colocou seu relógio de pulso na caixa e descobriu que o que eles tinham construído era uma máquina do tempo, que funciona como já explicado acima.

Os dois imediatamente decidem que, se um agente inteligente for colocado dentro da caixa, poderia deliberadamente sair da caixa antes de entrar, viajando para trás no tempo. Abe, então, revela a Aaron que ele já fez isso:

  • Abe construiu uma máquina do tempo do tamanho de um caixão, que chamaremos Caixa A, e colocou-a em uma unidade de um galpão.
  • Às 08h30min de segunda-feira, Abe preparou a Caixa A para se ativar em quinze minutos.
  • Ele se afastou do galpão e isolou-se em um hotel em Russelfield.
  • A caixa foi ativada às 08h45min e completamente ligada às 08h49min.
  • Às 15h15min, Abe voltou à Caixa A e desligou-a. Demorou mais quatro minutos para desligar completamente. Enquanto ela desligava, ele entrou.
  • Abe esperou seis horas e meia (no filme é afirmado repetidamente como "seis horas"). No tempo exato, ele saiu da caixa logo após ele ser ativada - às 08h45min de segunda-feira.
  • Abe então se aproximou de Aaron na primeira cena do banco.

Agora são 15h15min de segunda-feira de novo, e Aaron e Abe-2 podem ver Abe, voltar à Caixa A, desligá-la, entrar nela e desaparecer no passado.

Terça-feira

Abe mostra a Aaron que ele fez um excelente negócio na Bolsa de Valores durante a segunda-feira.

Na terça-feira, Abe faz a mesma coisa, mas desta vez Aaron insiste em ir junto. Agora, Aaron já tem a sua própria caixa construída: Caixa B.

Eles ligam as caixas às 08h30min de terça-feira, escondem-se no hotel durante todo o dia e então retornam às caixas às 15h15min. Abe sai da Caixa A às 08h45min da terça-feira como o esperado, mas Aaron fica nervoso no final, e sai da Caixa B um ou dois minutos mais cedo (ou, da perspectiva de Abe, um ou dois minutos mais tarde), sofrendo uma grave reação física. Agora são 08h50min da manhã de terça.

O diálogo durante essas cenas revela alguns fatos importantes.

  • Abe e Aaron estão tentando modificar a história o mínimo possível. Eles se isolam no hotel, a fim de minimizar o efeito. Em especial, se eles acidentalmente evitassem seus duplos de sair dessa linha temporal, como previsto, isso seria um grande problema, já que agora haveria múltiplos Aarons/Abes.
  • O outro diálogo importante é: "as caixas só podem ser usadas uma vez". O que Aaron quer dizer com isso é que depois que você sai de uma caixa, não pode voltar a ela mais tarde, desligá-la e entrar novamente - porque é isso que o seu próprio passado fez. Você não pode usar a mesma caixa para repetir o mesmo dia, já que isso evitaria que seu duplo usasse a caixa. Isso não é exatamente verdade. Para os fins deste resumo, no entanto, tudo o que precisamos saber é que Aaron e Abe acreditam que isso seja verdade e operam sob esta suposição.

Eles fazem um pouco mais de dinheiro no mercado de ações. Naquela noite, têm uma conversa um pouco embriagada com Kara, esposa de Aaron, sobre a perspectiva de obter riqueza ilimitada. Aaron levanta a hipótese de bater em Joseph Platts e, em seguida, voltar no tempo e dizer a si mesmo que não, fazendo com que isso nunca acontecesse. Abe diz que "não pode fazer isso", não porque é moralmente errado bater em Joseph Platts, ou porque Aaron não pode contar a Kara sobre a máquina do tempo, mas porque isso resultaria em haver dois Aarons. O que é ruim

"Mas a ideia tinha sido lançada. E as palavras não iriam retornam depois de terem sido proferidas em voz alta."

Kara também menciona um ruído misterioso em seu sótão. Aves? Ratos?

Quarta-feira

A mesma rotina novamente.

Aaron e Abe discutem no supermercado e no posto de gasolina naquela manhã sobre paradoxos, livre arbítrio, paranoia e predestinação. Um ponto específico que Aaron levanta é o problema de viver em um universo que foi projetado por alguém. No hotel, e depois na quarta-feira à tarde na biblioteca, Abe e Aaron discutem sobre o problema de Aaron estar escondendo as máquinas do tempo de Kara. Eles também discutem sobre Robert e Philip; e concordam em dar-lhes uma certa quantidade de direitos de patente e/ou equipamentos e/ou dinheiro, a fim de manter a consciência tranquila.

Eles voltam no tempo como usual. Às 08h15min de quarta-feira, logo depois de sair da máquina, Aaron está sangrando pelo ouvido.

Naquele dia, fazem negócios bem sucedidos. Na parte da tarde, eles finalmente admitem que a garagem foi "pulverizada", e o trabalho na garagem com Robert e Philip é retomado.

Robert relata uma história interessante. Parece que segunda-feira à noite foi festa de aniversário de Robert. Abe não estava lá, mas sua namorada Rachel estava. Então o ex-namorado de Rachel entrou na festa empunhando uma espingarda. Foi Aaron quem arriscou sua vida para acalmar a situação com segurança.

Na quarta-feira à noite, enquanto Aaron e Abe estão do lado de fora procurando o gato desaparecido de Aaron, Abe está com raiva por que Aaron, um homem de família, arriscou a sua vida de tal forma. Abe está realmente confuso que Aaron tenha sido tão estranhamente irresponsável. Aaron se desculpa e afirma que, desde a descoberta das máquinas do tempo ele está vendo o mundo de forma diferente,em referência à sua conversa mais cedo. No entanto, isso não explica totalmente suas ações.

Quinta-feira

A mesma rotina novamente.

Durante o dia no hotel, o celular de Aaron toca. É Kara, perguntando sobre o jantar. Isso é um erro, já que Aaron deveria ter ficado incomunicável. Abe diz a Aaron para não trazer o celular de volta no tempo com ele - esta é uma maneira perfeitamente razoável de evitar a possibilidade de um paradoxo.

Eles voltam no tempo, como de costume. Na segunda vez durante a quinta-feira, Aaron assiste a um jogo de esportes (cujo resultado já sabem), enquanto que Abe come um muffin. Em seguida, no caminho para o restaurante, o celular de Aaron (que ele inadvertidamente trouxe de volta no tempo com ele) toca novamente.

Este é um problema, e um ponto crítico no filme. Há dois Aarons neste momento (um no hotel), e, devido a falta de jeito de Aaron, dois de seus telefones celulares (um no hotel). Se o telefone na mão de Aaron está tocando, Aaron e Abe raciocinam, então o telefone do hotel não pode tocar. A simetria é quebrada e a história mudou. A História pode ser alterada.

Sexta-feira

Por volta das 02h de sexta-feira de manhã algumas crianças disparam alarmes de carros fora da casa de Abe. Abe vai à casa de Aaron e o tira da cama. Abe revela que ele tem rotineiramente ligado as caixas às 17h e as desligado na manhã seguinte.

Abe, em seguida, apresenta um plano confuso e potencialmente perigoso de visitar Joseph Platts em sua casa, dar um soco na cara dele, e depois, por volta de 03h da sexta-feira, usar essas caixas para voltar no tempo às 17h da quinta-feira e se certificar de que nem os alarmes de carro, nem o soco aconteçam. Em teoria, como resultado, os duplos de Aaron e Abe ficarão na cama a noite toda, entrarão em suas caixas às 15h15min de sexta-feira como normal, e deixarão esse cronograma permanentemente, deixando apenas um de cada um dos Aaron e Abe para trás.

Assim que eles entram no carro, no entanto, percebem que estão sendo seguidos por Thomas Granger, pai da namorada de Abe e principal fonte de financiamento do projeto. Granger tem uma barba de vários dias no rosto, mas Aaron o viu pela última vez às 18h de quinta-feira, quando ele estava sem barba. Abe liga para Thomas Granger e o cara que atende é realmente Thomas Granger ... mas ele não é o cara que está seguindo eles. Algo muito estranho está acontecendo. Este homem é um Thomas Granger diferente que voltou no tempo usando uma das caixas, provavelmente saindo da caixa às 17h de quinta-feira quando Abe as ligou.

Aaron corre atrás de Granger e, quando chegam perto um do outro, Aaron sofre uma vertigem e cai enquanto Granger cai completamente inconsciente. Eles colocaram Granger na cama na casa de Abe; Aaron não pode aproximar-se dele sem, de alguma forma, deixá-lo inconsciente. Eles verificam que as caixas estão realmente ligadas. Aaron propõe desligá-las para ver se Granger está dentro, um ato cujas consequências seriam extremamente difíceis de prever. Eles não fazem isso.

Por que Granger voltou no tempo? É óbvio que em algum momento no futuro, Aaron ou Abe disseram a Granger sobre as caixas. Então, alguma coisa aconteceu para fazer Granger voltar no tempo a este ponto (o mais cedo que ele pôde ir) e começar a observá-los. Eles concluem que a situação teria que ser uma verdadeira emergência, mas eles não têm ideia do que poderia ser. "As permutações eram infinitas." A História mudou definitivamente agora que Granger voltou, mas eles não têm como adivinhar se a situação de emergência em questão foi totalmente evitada pelas breves interações de Granger com eles e o resto do universo - ele só ficou fora da caixa por cerca de oito horas e meia.

E então Abe perde a calma.

Revela-se agora que existe uma caixa à prova de falhas, construída por Abe, numa segunda unidade de armazenamento. Esta caixa está ligada por 3 dias e 22 horas - em outras palavras, desde o início na segunda-feira de manhã. Abe ligou a caixa por volta de 05h de segunda-feira, em seguida, voltou para a cama até às 08h30min, quando voltou para ligar a Caixa A. Por volta de 03h de sexta-feira, Abe retorna à caixa à prova de falhas, com oxigênio e água para quatro dias e um pequeno tanque de óxido nitroso de nível médico, entra nela e viaja por todo o caminho de volta às 05h de segunda-feira.

Segunda-feira novamente

Abe (agora Abe Dois) sai da caixa a prova de falhas às 05h. Ele vai para sua casa e nocauteia seu duplo na cama com o óxido nitroso. Ele esconde o seu duplo em seu banheiro.

Agora chegamos à segunda cena do banco. Como na primeira cena do banco, Aaron está ouvindo o que é, supostamente, basquetebol em seu fone de ouvido. Abe Dois está doente após quatro dias de muito pouca comida, e em estado de choque depois de nocautear seu duplo. Aaron, porém, repete a maioria das falas, como da última vez.

Na verdade, quando Abe desmaia, é revelado que Aaron não está ouvindo basquete. Ele está ouvindo uma gravação dessa mesma conversa. Como pode isso? A gravação deve ter sido feita em alguma linha temporal anterior. Este não é o Aaron original. Esta não é a linha temporal original. Nunca foi. Este Aaron voltou no tempo do futuro.

"Neste momento, teria havido alguma discussão ...".

Aaron e Abe se confrontam e explicam tudo o que aconteceu. Esta é a sequência mais difícil no filme de se acompanhar, em parte devido à complexidade da trama, mas principalmente porque, devido à falta de CGI, era impossível colocar mais de um Aaron na tela ao mesmo tempo. Os dois principais pontos de discussão são:

  1. Como?
    A fala de Aaron: "elas não são descartáveis. Elas são recicláveis", significa que, embora você não possa voltar a entrar na caixa de que saiu, pode trazer uma outra caixa com você, ativá-la assim que sair, e depois usá-la, voltando para o mesmo momento no tempo novamente - ou poucos minutos depois, na pior das hipóteses.
    Em alguma linha temporal anterior, Aaron descobriu a caixa à prova de falhas de Abe, ancorada às 05h de segunda-feira. Ele, então, entrou na máquina à prova de falhas e a usou voltar no tempo, levando com ele uma segunda máquina do tempo, modulada. Este é o Aaron com o capuz.
    Ao chegar em casa às 05h de segunda-feira, Aaron com o capuz montou sua máquina uma segunda vez - vamos chamá-la de máquina à prova de falhas B - digamos às 05h15min de segunda-feira. Aaron com o capuz depois foi para sua casa e drogou o leite matinal de seu duplo, então escondeu o seu duplo em coma no sótão. Este é o ruído que Kara menciona na quarta-feira à noite. Isso significa que agora existem dois Aarons nesta linha do tempo, de forma permanente. Aaron com o capuz assumiu a identidade de seu duplo e gravou todas as conversas da semana.
    Então, ele usou a máquina à prova de falhas B (lembre-se: ele não pode usar novamente a caixa à prova de falhas se já saiu dela uma vez) para voltar no tempo às 05h15min de segunda-feira novamente. Ele levou mais um máquina do tempo com ele, que chamaremos de máquina à prova de falhas C (05h30min de segunda-feira). Ele se torna Aaron Três, sem capuz. Aaron Três chega em sua casa, assim que o Aaron com o capuz terminou de drogar o leite de Aaron Prime (o Aaron original). Aaron Três tenta deter Aaron com o capuz, mas desta vez ele está muito cansado, e Aaron com o capuz ganha. Depois de uma conversa, no entanto, Aaron Três convence Aaron com o capuz a partir. Existem agora três versões permanentes de Aaron: Aaron Prime, que é drogado no sótão, Aaron com o capuz que deixou a cidade, e o Aaron que estamos acompanhando desde o início da primeira cena do banco, com o fone de ouvido em sua orelha dizendo as falas; é Aaron Três e sempre foi.
    Aaron Três se expôs DEMAIS às caixas. É por isso que ele começou a sangrar do ouvido na quarta-feira, e também porque seu contato com Thomas Granger quase matou os dois.
    Aaron com o capuz é o narrador da história. O Primer (manual ou cartilha, em português) do título é a ligação de Aaron com o capuz para Aaron Prime.
    Então que caixa Abe usou para voltar no tempo? Logicamente, Abe deve ter usado a máquina à prova de falhas C, já que a máquina à prova de falhas A foi usada por Aaron com o capuz e a máquina à prova de falhas B foi usada por Aaron Três. Como isso aconteceu? Aaron deve ter trocado a máquina à prova de falhas A pela máquina à prova de falhas C. A caixa que Abe acreditava que era uma máquina à prova de falhas A (ancorada às 05h de segunda-feira) na verdade era a máquina à prova de falhas C (ancorada às 05h30min de segunda-feira). Isso não é visto ou mesmo ventilado no filme, mas é necessário para resolver esta parte da história.
  2. Por quê?
    Problemas de logística à parte, a última pergunta que resta é por que Aaron escolheu voltar tão longe no tempo, sacrificar-se tanto, duplicando-se permanentemente duas vezes. O que ele está tentando resolver, exatamente?

    A chave para tudo isso é a festa. É óbvio, apesar de muita coisa não ser dita, que quando o ex-namorado da Rachel entrou na casa com uma espingarda, as coisas poderiam ter sido consideravelmente piores. Aaron Três, lembramos, arriscou sua vida para resolver com sucesso a situação. Agora entendemos por que ele correu esse risco. Há outros dois Aarons nesta linha temporal, sendo um deles Aaron Prime. Aaron Três não interessa - ele é uma não-pessoa, um homem morto andando, e ele não tem direito à família de Aaron Prime. Ele não tem uma vida para perder.
    Se eu puder me adiantar no filme um pouco, a cena do basquete (que tem lugar em algum momento no meio da segunda-feira) também é importante. Esta cena estabelece que foi Aaron que originalmente convidou Will, primo do ex-namorado de Rachel, para a festa - e que foi Aaron quem sugeriu que Will deveria trazer o ex-namorado de Rachel com ele. Em outras palavras, o que originalmente aconteceu na festa foi indiretamente culpa de Aaron. Ele se sente responsável

Aaron Três pensou que o problema estava definitivamente resolvido. Mas o fato de que Thomas Granger voltar no tempo às 17h de quinta-feira indica que não estava, e algo de ruim ainda estava acontecendo com Aaron e Abe no futuro. No entanto, é segunda-feira de novo, e tanto Aaron Três quanto Abe Dois são prescientes agora. Eles decidem fazer a situação acabar melhor desta vez, com o ex-namorado de Rachel preso.

Na segunda-feira à tarde, Aaron e Abe estão ambos sofrendo os efeitos de uma grande viagem no tempo - eles são incapazes de escrever corretamente. Lembra-se de quando eles colocam as mãos na máquina?

Neste ponto, o narrador, Aaron com o capuz, nos lembra de que ele, naturalmente, não vem de uma linha do tempo onde tudo funcionou perfeitamente. Na verdade, ele nunca foi para a festa. Ele não tem ideia de quanto tempo vai demorar para Aaron Três "resolver o problema de um modo perfeito". Pelo que vemos no filme, no entanto, para Abe Dois e Aaron Três, parece funcionar pela primeira vez. O ex ciumento é detido e preso. Fim.

Na noite de segunda Aaron Três aparece na casa de Abe. Abe Dois não consegue dormir. E com esse problema resolvido, todos vivem felizes para sempre.

Com as seguintes exceções.

Terça-feira novamente

Aaron Prime acorda em seu próprio sótão depois de ter sido drogado por 24 horas pelo seu duplo.

Abe Prime acorda em seu banheiro depois de ter sido nocauteado com gás por 24 horas pelo seu duplo.

Há três caixas à prova de falhas em funcionamento que, evidentemente, ninguém pensou em desligar, além da caixa original de Abe Prime, que ainda não foi ativada, mas é operacional. "Eles vão construir suas próprias caixas algum dia. E [Abe Prime] já sabe o que construíram."

Aaron Três e Abe Dois vão ao aeroporto. Aaron vai roubar o passaporte de seu duplo e sair do país, porque ele não pode ir para casa. Ele perdeu Kara e Lauren para Aaron Prime. Abe, por sua vez, vai ficar para que ele possa sabotar as tentativas dos seus duplos de construírem as máquinas do tempo. E, mais sinistramente, ficar perto de Kara e Lauren. E protegê-los de Aaron Três. O quê?

E, finalmente, no outro lado do mundo, Aaron com o capuz faz a sua ligação para Aaron Prime. Talvez Aaron Prime a grava e acredita nela, talvez não. Aaron com o capuz explica toda a história, inclusive por que ele drogou Aaron Prime, e, portanto, "[paga] qualquer dívida que eu possa lhe dever".

"Você não vai ser contactado por mim novamente. E se você procurar, não vai me encontrar."


Aaron com o capuz desliga e inicia a construção de uma máquina do tempo do tamanho de um armazém. Fim.

5 comentários:

  1. Kkkkkkkkkkkkkkk igual ao filme 🎥 não consegui entender, vou ter que ler novamente.

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  2. Assistindo/lendo em 2021.....vou ver se volto para 2015 para reiniciar e assistir/ ler de novo

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  3. Agora entendi. Poderiam no futuro fazer um remake com mais verba do mesmo filme e deixar um pouco mais explicado.

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  4. Agora entendi. Poderiam no futuro fazer um remake com mais verba do mesmo filme e deixar um pouco mais explicado.

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  5. A única ponta que ficou solta, para mim, é o fato de Aaron I acordar na terça feira. Se ele ficou apenas 24h drogado, como Aaron II ficou a semana no seu lugar e a própria Kara ouviu barulhos no sótão na quarta?

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